Quando uma longa viagem surge na vida de alguém, várias são as providências a tomar.
O indivíduo começa um planejamento de longo prazo, com calma e tranquilidade, para tudo poder executar a tempo.
Aos poucos vai se inteirando das informações do país em que irá morar.
Busca conhecer seus aspectos culturais, o clima, a alimentação, os hábitos locais.
E,
antes de partir, aos poucos vai se desfazendo das coisas de menor
importância, doando alguns pertences, passando a frente outros objetos,
descartando as coisas inúteis que no tempo foi guardando.
Pondera
o que efetivamente lhe é de grande valia para poder carregar consigo.
Repensa em como irá conduzir a vida, a partir de uma nova morada. E
aquilata as novas experiências que lhe serão possibilitadas com a
viagem.
Como sabe que os anos no exílio lhe serão longos, despede-se dos amigos, não desesperadamente, mas com lágrimas de até breve.
Dá
à família as instruções necessárias para sua ausência, para que tudo
corra de maneira adequada e para que sua falta não lhes seja um grande
fardo.
E
assim se vai preparando, para que o dia da viagem não lhe chegue de
forma súbita e inesperada, encontrando-o com a mala por fazer e com os
preparativos ainda por se concluírem.
* * *
Assim
se dá com nosso regresso ao mundo espiritual. É a viagem inevitável que
todos faremos de retorno à nossa pátria, deixando a Terra que nos é
escola bendita e redentora.
Como
a viagem está marcada para todos e apenas desconhecemos a data da
partida, que possamos aos poucos avaliar como estamos, caso logo mais
sejamos convidados a voltar para casa.
Será que nos despediremos de nossos entes queridos com a tranquilidade de quem sabe que irá reencontrá-los um dia?
Será
que já nos desfizemos do peso desnecessário e improdutivo que
carregamos em nosso coração? Afinal, ele será a única mala que
carregaremos.
Será que já nos desapegamos das coisas daqui, que hoje, por mais importantes que sejam, logo mais não terão serventia, quando partirmos?
Não poucos a morte do corpo físico arrebata de maneira despreparada e surpreendente.
Vivem como se a vida física fosse a
de eternidade, sem refletir em momento algum sobre a fragilidade da
existência humana, esquecendo-se que imortal é a alma, porém jamais o
corpo.
Dessa forma, útil será que todos possamos, vez ou outra, refletir sobre a vida e seus valores.
Saber
que ela vai muito além dos limites do corpo físico faz com que cada um
de nós, aos poucos, vá arrumando as malas para a inexorável viagem de
volta a casa.
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