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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

A FADA MADRINHA DE MARINA SILVA

Maria Alice Setubal. “Marina (Silva) fala que nós duas viramos amigas porque fomos contra os nossos destinos” Foto: ELIARIA ANDRADE / Eliária Andrade


Maria Alice Setubal. “Marina (Silva) fala que nós duas viramos amigas porque fomos contra os nossos destinos” - ELIARIA ANDRADE / Eliária Andrade


Herdeira do Itaú, Maria Alice Setubal capta recursos para o novo partido da ambientalista, em processo de coleta de assinaturas

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SÃO PAULO - Reservada, fala pausada, estatura alta (1,76 metro) e elegante, Maria Alice Setubal também é conhecida por Neca, de “boneca”. O apelido foi dado pelo pai, o falecido dono do Banco Itaú, Olavo Setubal, encantado pela única filha mulher, nascida em 1951, a segunda de outros seis, todos homens. Maria Alice não nega suas origens de herdeira — a fortuna da família é avaliada em mais de R$ 5 bilhões —, mas procura ir além disso. Dirige uma fundação, a Tide Setubal, e fundou o Centro de Pesquisa para Educação e Cultura (Cenpec), entidade de referência no setor. Doutora em Psicologia da Educação pela PUC de São Paulo, ela também administra, ao lado do marido, um hotel-fazenda no interior paulista chamado Capoava (diárias a partir de R$ 1 mil). Atualmente, tem se dedicado a ajudar a ex-senadora Marina Silva a construir seu novo partido: a Rede Sustentabilidade.

— A Marina (Silva) fala que nós duas viramos amigas porque fomos contra os nossos destinos. Porque era para a Marina ser uma moça pobre do seringal do Acre e eu, uma moça rica da alta sociedade paulistana. Temos uma amizade muito bonita — diz.
A união improvável gerou frutos políticos: Maria Alice é articuladora essencial — cuida da captação de recursos —, uma espécie de fada madrinha, da Rede Sustentabilidade. O movimento está em processo de recolher as 500 mil assinaturas necessárias para se tornar um partido, o que deve ser concluído na próxima semana. Ela coloca ao dispor da amiga suas condições de intelectual e articuladora de posses e amigos importantes. O objetivo parece claro: lançar a candidatura de Marina à Presidência no ano que vem, investindo nos insatisfeitos com “este atual modelo de país, que bateu num teto”, comenta a empresária.
Garantindo ter doado somente como pessoa física, “nada muito significante”, para a criação da Rede, Maria Alice promove encontros e eventos para Marina. São desde cafés da manhã com empresários e outros interessados, passando pela venda de camisetas e produção de eventos, como um recente show em São Paulo de Adriana Calcanhotto e Nando Reis.
— Depois que o partido se estabelecer, vamos mobilizar doações via internet. A ideia é expandir e elaborar minucioso plano de capacitação de recursos — adianta Maria Alice, que diz acreditar que a coleta de assinaturas seja concluída na próxima semana.
O prazo para o trâmite no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é setembro. Segundo Maria Alice, as assinaturas ainda precisarão ser validadas e o material, enviado pelos Correios:
— Existe toda uma burocracia a seguir. A política é uma adrenalina, é muito bom de fazer quando você acredita numa pessoa e num projeto.

Maria Alice e Marina se conheceram em 2007, e a amizade cresceu às vésperas da campanha presidencial de 2010, quando o cineasta Fernando Meirelles convidou a empresária para participar de um vídeo em apoio a Marina. Ela acompanhou a então candidata do Partido Verde (PV) em viagens pelo Brasil, fez doações para a campanha, elaborou um plano de governo na área de Educação e disse ter ficado cada vez mais “impressionada com o carisma e o carinho que Marina desperta”. Em abril último, as duas estiveram em Paris. Encontraram-se com intelectuais, empresários e políticos.
Para Maria Alice, a maior parte das lideranças do Brasil e do mundo não enxerga a “horizontalidade da política”.
— A mesma coisa acontece com a Educação. Assim como a construção do conhecimento hoje é colaborativa, na política ela também deve ser. O nosso modelo político é um modelo do século XIX e não se adequa às condições do mundo atual. É corajoso tentar fazer alguma coisa, mesmo sem reforma política nenhuma.
A herdeira do Itaú frisa que “uma coisa é ela com a Rede e com Marina; outra coisa é ela com sua fundação e o Cenpec (referência nacional na produção de material didático, formação de professores e avaliação das escolas); e outra é o banco”.
O Itaú doou, segundo informações da época, R$ 1 milhão para a campanha de Marina em 2010, e a própria Maria Alice já admitiu que o banco pode voltar a participar em 2014, embora ainda seja cedo para qualquer definição.
marina diz que amiga virou militante da rede
Planos para o Brasil são o que aparentemente unem esta integrante da alta sociedade paulistana — mãe de três filhos e avó de dois — e a filha de seringueiros que virou senadora, ex-ministra do Meio Ambiente do governo Lula e presidenciável que obteve 20 milhões de votos na última eleição. Marina retribui os elogios à amiga.

— Somos duas pessoas com trajetórias em contextos diferentes, cujo ponto comum para a aproximação foi a Educação. O que nos levou a uma profunda amizade, compartilhando ideias e projetos, inclusive no espaço da política. Maria Alice agora é militante da Rede Sustentabilidade — afirma Marina Silva.
Maria Alice diz que a amiga “também vê como questões” eventuais restrições a uma candidatura sua, que passam por temas como religião. Será que Marina conseguiria separar o fato de ser evangélica de um Estado laico?
— Ela sempre defendeu o Estado laico. Marina nunca misturou sua fé, algo muito pessoal, com política; ao contrário de muitos outros que estão por aí — responde a empresária, para quem a amiga, se for mesmo candidata em 2014, também precisará “ter em torno dela pessoas que traduzam sua visão de estadista em políticas concretas, em implementação, que ela terá que mostrar”.


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